Em seu primeiro pronunciamento à nação feito do Salão Oval da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse nesta terça-feira que a petroleira britânica BP foi “imprudente” e que vai fazer a empresa pagar pelos danos causados pelo vazamento de petróleo no Golfo do México.
“Nós vamos fazer a BP pagar pelos danos que sua companhia causou. E nós vamos fazer o que for necessário para ajudar a costa do Golfo e sua população a se recuperarem dessa tragédia”, disse o presidente em um discurso transmitido ao vivo pela TV.
“Amanhã, eu vou me reunir com o presidente da BP e informá-lo de que ele deve reservar a quantia que for necessária para compensar esses trabalhadores e comerciantes que foram prejudicados por causa da imprudência de sua empresa”, afirmou Obama.
O governo americano vem pressionando a BP a criar um fundo independente de bilhões de dólares para garantir o pagamento de compensações financeira às vítimas do vazamento.
Veja a evolução do vazamento do Golfo do México no infográfico do iG
Ataque
O Salão Oval da Casa Branca é o cenário escolhido pelos presidentes americanos para discursos sobre temas de grande importância para o país.
Foi de lá que o antecessor de Obama, George W. Bush, falou após os ataques de 11 de Setembro de 2001.
Nesta terça-feira, Obama disse que o vazamento no Golfo – considerado o pior desastre ambiental da história do país – é um “ataque” à costa e ao povo americano e que “testou os limites da tecnologia humana”.
“Porque nunca houve um vazamento desse tamanho e a essa profundidade, contê-lo testou os limites da tecnologia humana”, disse.
Obama passou os últimos dois dias visitando a região afetada pelo vazamento, que começou em 20 de abril, quando uma plataforma operada pela BP explodiu e afundou, matando 11 funcionários.
Nova estimativa
O pronunciamento foi feito poucas horas depois da divulgação de uma nova estimativa, baseada em análises de cientistas independentes e do governo, segundo a qual o vazamento é de entre 35 mil e 60 mil barris por dia, volume bem acima dos 40 mil calculados na semana passada.
Desde o início do vazamento, várias tentativas de conter o fluxo de petróleo fracassaram. A mais recente técnica usada pela BP, um dispositivo colocado sobre o poço danificado, a 1,5 mil metros de profundidade, consegue até agora coletar apenas cerca de 18 mil barris por dia.
No entanto, Obama disse que o governo já ordenou à empresa que use equipamentos e tecnologia adicionais.
“Nas próximas semanas, esses esforços devem capturar até 90% do petróleo”, disse o presidente, ao afirmar que, desde o desastre, seu governo mobilizou “os melhores cientistas e engenheiros do país”.
Limpeza e recuperação
Obama disse que cerca de 30 mil pessoas e milhares de embarcações estão atuando em quatro Estados (Louisiana, Alabama, Mississippi e Flórida) nos esforços de contenção do petróleo e limpeza das áreas atingidas.
O presidente americano disse também que mais de 17 mil membros da Guarda Nacional estão mobilizados para ajudar nos esforços na região afetada.
“Nós vamos lutar contra esse vazamento com tudo o que tivermos e por quanto tempo for necessário”, afirmou. “Mas nós temos de reconhecer que, apesar de nossos melhores esforços, o petróleo já causou danos à nossa costa e aos animais.”
Segundo o presidente, é necessário um plano de longo prazo para restaurar a região, que já havia sofrido com a passagem do furacão Katrina, há cinco anos.
“Hoje, ao olharmos para o Golfo, vemos todo um modo de vida ser ameaçado por uma nuvem negra de petróleo", disse.
O presidente disse que o governo está trabalhando em um plano de longo prazo para a costa do Golfo, a ser elaborado pelos Estados e comunidades locais, e voltou a citar a responsabilidade da BP.
“E a BP vai pagar pelo impacto que esse vazamento teve na região”, afirmou.
Prevenção
Obama disse que uma comissão nacional vai investigar as causas do acidente e oferecer recomendações sobre padrões ambientais e de segurança.
O presidente anunciou o nome de Michael Bromwich para comandar o Serviço de Gestão de Minerais (MMS, na sigla em inglês).
“Sua incumbência nos próximos meses será construir uma organização que atue como fiscalizadora da indústria de petróleo – e não como sua parceira”, disse.
Em diversas ocasiões anteriores Obama criticou o MMS e a relação “escandalosamente próxima” entre petroleiras e agências reguladoras.
Energia limpa
O presidente aproveitou o pronunciamento para defender uma nova legislação que privilegie energias limpas e reduza a dependência de petróleo, especialmente estrangeiro.
O presidente citou a lei aprovada pela Câmara dos Representantes no ano passado, que classificou como "um projeto que finalmente faz da energia limpa o tipo de energia rentável para as empresas americanas". O Senado, porém, ainda não votou a legislação.
Obama disse que “um dos motivos” de as empresas explorarem petróleo a profundidades tão grandes é a alta demanda americana e voltou a afirmar que o país consome mais de 20% do petróleo do mundo, apesar de deter menos de 2% das reservas mundiais.
O presidente disse que a ação de lobistas das empresas e a "falta de coragem política" impediram as mudanças, mas que as consequências da falta de ação agora estão bem à vista.
“A tragédia que se desenrola na nossa costa é a mais dolorosa e mais poderosa advertência de que a hora de abraçar um futuro de energia limpa é agora”, afirmou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário