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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Um ano depois, queda do AF 447 segue sem respostas

Um ano após o acidente, mais perguntas do que certezas restaram do desastre do voo AF 447 Rio-Paris, da Air France. que desapareceu no Oceano Atlântico e matou 228 passageiros e tripulantes. O Escritório de Investigações e Análises (BEA, na sigla em inglês), que investiga o acidente, ainda não sabe os motivos da queda do Airbus.

Sem as caixas-pretas, o escritório francês diz que não pode esclarecer o que causou o acidente, mas sabe que não houve "despressurização durante o voo" e que a aeronave provavelmente estava inteira antes de cair no mar. Além disso, a aeronave tocou o oceano em posição horizontal e com o bico ligeiramente apontado para cima, em uma indicação de que poderia estar tentando aterrissar no mar.

O BEA também pôs em dúvida a confiabilidade dos sensores de velocidade, chamadas de sondas pitot, mas alega que isso não significa que tenham sido os responsáveis pelo acidente. Em seu relatório, o órgão francês recomenda que sejam determinados novos padrões para testes destes sensores, pois eles podem sofrer alterações em altitudes elevadas, caso haja acúmulo de gelo.


Foto: AP
Embarcação com destroços do voo 447 chega ao Porto do Recife
A Airbus, construtora do A330 que caiu, identificou 32 acidentes, entre 12 de novembro de 2003 e junho de 2009, nos quais dois ou mais dos sensores de velocidade haviam acumulado gelo. Quando os pitots são bloqueados pelo gelo, eles enviam falsas medições de velocidade para os computadores do próprio avião, como no caso do voo 447, já que aeronave enviou várias mensagens automáticas de erro antes de cair.

Investigações paralelas, como a do ex-comandante de A330, Henri Marnet-Cornus, e de Gérard Arnoux, também comandante de Airbus e presidente do sindicato União Francesa de Pilotos de Linha, são mais incisivas que o BEA. Para eles, como para dezenas de pilotos comerciais da Air France, não há dúvidas: o congelamento dos pitots está na origem de uma sequência de falhas eletrônicas que forçaram o capitão da aeronave, Marc Dubois, ou o copiloto, Pierre-Cédric Bonin, a tomar decisões de urgência, potencialmente erradas.

Para o escritório francês, sem as caixas-pretas ou novos dados sobre o acidente não será possivel determinar com precisão a causa da queda, "A falta de dados dos registros do voo, de elementos essenciais do avião e de testemunhas, as circunstâncias exatas do acidente e suas causas seguem sem ser determinadas", diz o último relatório.

Denúncias

Os pilotos da Air France-KLM acusaram os investigadores de acidentes da companhia de tentar encobrir a causa da queda do Airbus que fazia o voo 447. "Eles estão tentando culpar os pilotos. Eles não querem a verdade", afirmou Gerard Arnoux.

Segundo Arnoux, as famílias das vítimas e os sindicatos dos pilotos estão preocupados com o que consideram uma tentativa do BEA e da Air France de causar confusão sobre o que causou o acidente. O porta-voz do sindicato, comandante de Airbus, disse que o BEA está tentando esconder seu fracasso anterior em agir sobre as conhecidas falhas dos pitot nos aviões da Airbus.


Foto: AFP
Destroços do voo 447 da Air France recolhidos pela Marinha e a Aeronáutica
As famílias acusaram a Air France e o BEA de desonestidade. Christophe Guillot-Noël, que preside uma associação de familiares das vítimas, disse que o presidente da companhia aérea, Pierre-Henri Gourgeon, estava reservadamente culpando os pilotos. O relatório da BEA foi influenciado por políticos, disse Guillot-Noël.

No fim do ano passado, o diretor do BEA, Paul-Louis Arslanian, criticou os pilotos dizendo que há décadas as tripulações vinham aprendendo a lidar com falhas nas leituras de velocidade dos aviões. No caso do avião da Air France, "algumas destas flutuações nos dados de velocidade talvez não tenham sido suficientemente levadas em conta no treinamento dos pilotos", afirmou.

"A Face Oculta da Air France"

Um livro lançado neste mês na França, escrito por um jornalista do "Le Figaro", aponta falhas na política de segurança da Air France e sugere que o acidente com o voo AF 447, poderia ter sido evitado se a empresa tivesse equipado seus aviões com um sistema de pilotagem de emergência, como havia feito sua concorrente Lufthansa em 2008.

No livro "La Face Cachée d'Air France" (literalmente "A Face Oculta da Air France", mas ainda sem previsão de título em português), o jornalista Fabrice Amedeo, especialista do setor de transportes do "Le Figaro", afirma que a direção da empresa deve realizar "uma verdadeira revolução cultural para evitar um novo acidente que representaria o seu fim".

"A Air France enfrenta um paradoxo. Ela possui uma frota de aviões ultramoderna, pilotos e um sistema de manutenção que estão entre os melhores do mundo, mas estatísticas de segurança de uma companhia de segunda categoria", diz o autor do livro.

Em um comunicado, a Air France afirma que "respeita todas as regulamentações nacionais e internacionais em vigor" e acrescenta que a segurança da companhia "corresponde aos padrões mais exigentes da indústria aeronáutica mundial".

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