Quando foi morar nos Estados Unidos, Marcelo Coelho ficou impressionado com a quantidade de milho usado nos alimentos industrializados. "Tem milho até no suco de laranja vendido no supermercado", diz Coelho, de 29 anos de idade. Inconformado com a quantidade de calorias oferecidas a cada refeição, o jovem pesquisador resolveu estudar um jeito de melhorar a forma como as pessoas se alimentam. O resultado é uma novidade apresentada pelo Massachussetts Institute of Technology (MIT) no início do ano: a impressora de alimentos. “A ideia de digitalizar a culinária é oferecer mais informações sobre os alimentos”, disse Coelho ao iG em entrevista por telefone do seu laboratório no MIT em Cambridge, nos Estados Unidos. "Essa ainda é uma atividade muito analógica."
A perspectiva de ter a refeição feita por uma impressora de alimentos pode soar estranha para a maioria das pessoas. Para quem não tem tempo de cozinhar, a promessa é, com o perdão do trocadilho, um prato cheio. Ao fim do expediente, basta abrir um programa de computador que funciona como um cardápio virtual e escolher o jantar. A receita do prato selecionado é enviada para uma impressora e, ao chegar em casa, não é preciso perder tempo na frente do fogão. O jantar está pronto para ser servido (veja como a impressora funciona no link acima).
Montar e desmontar câmeras
Inventar objetos sem sempre foi a primeira opção de vida para Coelho. Em 1998, ele decidiu sair de Campinas, sua cidade natal no interior paulista, para estudar cinema na Universidade de São Paulo (USP). Um ano e meio depois, foi fazer um intercâmbio na Universidade Concórdia, em Montreal, no Canadá, onde seguiu estudando cinema antes de perceber que aquela não era bem a sua praia. “Estava mais interessado em montar e desmontar câmeras do que fazer filmes”, disse. Em crise, Coelho resolveu continuar em Montreal, mas mudou de curso. Em 2002, matriculou-se na faculdade de Arte e Computação.
Foi na nova universidade que conheceu uma pessoa que influenciaria para sempre sua vida: a professora de design Joanna Berzowska, com que foi trabalhar há cinco anos. Joanna focava suas pesquisas em tecidos inteligentes que mudam de cor de acordo com a temperatura ambiente. Coelho gostou do assunto e, de lá para cá, nunca mais deixou os laboratórios. Antes da Cornucópia, que criou ao lado do israelense Amit Zoran, o brasileiro desenvolveu objetos que mudam de forma. A que mais gosta é a Shutters, uma cortina cujas abas mudam de um lado para o outro para facilitar o fluxo de luz e de ar (veja outras criações de Coelho na galeria de fotos). Depois de um ano e mais de US$ 10 mil investidos, a novidade chamou a atenção de uma fabricante americana de brinquedos.
Deixar a comida pronta na hora programada não é a única função da Cornucópia, cujo nome foi inspirado no chifre que representa a fertilidade, a riqueza e a abundância na mitologia greco-romana. Ela também vai ajudar a preparar pratos mais saudáveis. Na tela sensível ao toque, será possível escolher a quantidade de alguns ingredientes usados na preparação do prato. A precisão será tamanha que permitirá estabelecer até mesmo o número de calorias e quantidade de carboidratos em cada refeição.
Ainda é cedo para falar que tipos de alimentos a Cornucópia será capaz de fazer. O cardápio de receitas só deve sair nos próximos dois anos, quando a impressora ficar pronta. Mas Coelho está animado com os resultados. “Fizemos testes com alguns ingredientes e ficou com gosto de comida feita em casa”, afirmou. Se a Cornucópia der certo, ele pretende montar uma empresa para comercializar o mais novo utensílio de cozinha. Caso contrário, vai voltar para o mundo das pesquisas. “Sempre tenho dez projetos acontecendo ao mesmo tempo”, afirmou. “No mundo das pesquisas, é bom não apostar tudo numa coisa só”.
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