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sábado, 6 de março de 2010

Toque de recolher impede entrada de chilenos em Concepción

Paciência e muita espera. Esse tem sido o dilema dos motoristas que há uma semana tentam cruzar pelas rodovias que cortam a região de Concepción. Desde o primeiro terremoto, registrado na madrugada do último sábado, a cidade permanece de portas fechadas aos seus visitantes em plena luz do dia. Quem vem de fora e tenta entrar no município de cerca de um milhão de habitantes é obrigado a ficar parado na estrada. O acesso a Concepción através pelo pedágio bloqueado pelo exército chileno só está sendo permitido após o meio dia.
"Ainda faltam vinte minutos para liberarem a estrada. Mas até o trânsito começar a andar vai tempo. A espera está sendo cansativa. Temos que aguardar até que a estrada seja aberta. Estamos parados há uma hora", afirma o motorista Rony Cardoso, 33 anos. "Não há outra alternativa além de aguardar. É preciso esperar e muito. As autoridades bloquearam a estrada por causa do toque de recolher. Só se pode circular por aqui das 12h às 18h. Depois disso, fica assim, fechado. Ninguém vai, ninguém volta", diz o caminhoneiro Hector Ferreira.
Operação de "resgate"
A maior parte das pessoas que passa pelas estradas quer entrar na cidade para realizar uma espécie de "resgate". Diante da falta de transporte e da insegurança de Concepción, essa é a única maneira de muita gente sair. "Estamos indo buscar meu irmão. Ele não consegue voltar. Mora no campo e não há transporte. É muito difícil para ele chegar na cidade. Por isso estamos aqui" afirma Cláudio Riquelme.
Acompanhado da mulher, o vendedor de 32 anos, traz consigo pendurado do lado de fora do carro uma bexiga branca com a inscrição "Força Chile". A mensagem é para dar um apoio às pessoas. "Temos que passar algo positivo nesse momento de dificuldade. Não se pode abaixar a cabeça", diz a estudante de pedagogia Karen Munhoz, 22 anos.
Longa espera
Em meio ao cansaço, centenas de motoristas aguardam pela liberação da estrada. Para quem vem de longe, a fatiga é ainda maior. "Estou há 40 horas na estrada. Saí de Iquique e cruzei toda a costa chilena. São 2.500 km de distância. Imaginava que fosse ter problemas. Mas não pensei que estivesse tão complicado assim", afirma Ricardo Rifo, 52 anos.
À medida em que a espera aumenta, cresce também o trânsito na fila dos motoristas. Motores desligados, portas abertas, passageiros espalhados pelo acostamento e rodas de bate-papo se formam ao longo dos 25 km que antecedem a entrada de Concepción. Sem ter o que fazer, cada um tenta a sua maneira matar o tempo.
"Procuro ouvir música, andar por aí e conversar com outros motoristas. É chato ter de ficar parado. Mas não dá para fazer nada. E o pior é que a gente tem que sair cedo porque o tempo de liberação do toque de recolher é muito pequeno. Então, se a gente não chega logo pela manhã, por mais que seja necessário ficar parado na estrada, não dá para fazer nada na cidade. Quando vê já estão dando o toque de novo", diz o agricultor Carlos Sandoval, 29 anos.
O tempo médio para uma viagem de Chillán a Concepción, que antes do terremoto levava em torno de uma hora, hoje leva em torno de pelo menos duas horas e meia, sem levar em conta a espera pela liberação da entrada. Pela primeira vez depois de sete dias os pedágios voltaram a funcionar. Cada veículo paga em torno de US$ 2 pelo direito de circular na rodovia. O preço até poderia ser considerado alto, diante da quantidade de desvios e pontes caídas. No entanto, acaba sendo mais uma alternativa para a reconstrução da estrada, destruída pelo terremoto.

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